CRÍTICA POR FELIPE MORENO / SITE INTERATIVIDADE E IMERSÃO
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Nigéria, um curta de bons contrastes.
O curta-metragem de Elder Fraga, “Nigéria, Fim da Linha”, tem uma pegada forte. Meio que continua a saga a que o mesmo diretor, roteirista e produtor tem se inclinado a abordar nessa fase de sua promissora carreira atrás das câmeras (para quem não sabe, Elder já é um ator que vem brilhando em curtas-metragens de outros autores).
Sua mão, por assim dizer, vai logo na ferida, na “chincha”, sem muita delonga, não só pela concisão que um filme de curta-metragem exige, mas creio também que pelo seu estilo de abordar o crime organizado, eixo principal de “Nigéria’.
Não se trata de apenas revelar a brutalidade pela qual o crime organizado se comporta, com suas “peças traiçoeiras” agindo insidiosamente uns contra os outros, mas também pela fenda por onde se revela um aspecto da natureza humana.
Pois, será possível descrer da existência de um simples ato traiçoeiro que já não tenhamos vivido em nosso círculo pessoal? Quem pode dizer sem qualquer pejo que nunca passou por uma decepção grande com alguém que agiu com “duplo ofício” de intenções?
A baliza de tudo isso é a própria “psicopatia” no comportamento de quem aparenta normalidade nos atos, mas que está tramando suas insídias egocêntricas contra seja lá quem for que cruze seu caminho, bastando para isso estar no meio “certo” para operar suas maldades.
Não, não. Não precisa “atirar uma pedra”. Eu posso imaginar que neste quesito muitos são os que querem atirar não somente a “primeira pedra”, mas a segunda, terceira, quarta... (mas “naquele traíra”, bem entendido! )
O universo de Nigéria é moldado pelo veneno que viaja como uma praga egípcia, que vai infestando o ambiente pelo qual transitam Níger, o matador “nigeriano”, implacável e amante de Branca, e daí se acende um luminoso contraste entre frieza e libido, (talvez simbolizado até na paixão de um negro e uma branca) já que amor verdadeiro não conhece o lugar onde “os brutos também amam”.
A trama é costurada pelas intenções dos personagens que revelam dupla face, fazendo com que a morte seja apenas o desenlace do qual não conseguimos escapar em vida. Portanto, se a morte é final comum a todos, nas mentes criminosas elas não estão ao lado de quem caminha, mas na “peste” que lhes assalta o instinto, para o qual lhe acena de longe a razão, que, em vez de estar “no meio” para mediar seus impulsos e suas emoções, vaga ao léu do espírito que se desencaminhou.
O filme também pode levantar a lebre de que se a vida passa rápido rumo ao seu fim, fugaz também é a brevíssima passagem dos pérfidos.
Em termos técnicos, o filme acerta novamente com a agilidade do roteiro, com as incisivas “fermatas” de sua trilha sonora, com a atuação dos atores e também com a mão do diretor. Há, no entanto, um pequeno descompasso no “timing” de alguns diálogos, mas nada que deixe obscurecer o impacto a que filme se propõe, com algumas boas surpresas ao longo da história.
No trailer abaixo, já podemos ter uma ideia de como muitos jovens artistas tupiniquins vêm tratando a cinematografia nacional, e isto é prova inconteste que a renovação é parte do ciclo da vida e da arte.
Assista ao trailer: http://vimeo.com/37412985